Embora quase exclusivamente
utilizado em relação à viagem de Pedro Álvares Cabral, o termo "descoberta
do Brasil", também pode referir-se à suposta chegada de outros navegantes
europeus antes dele. Esse é o caso das possíveis expedições de Duarte Pacheco Pereira1
em 14982
e mais tarde do espanhol
Vicente Yáñez Pinzón em 26 de janeiro
de 1500.
A armada
Nau de Pedro Álvares Cabral conforme retratada
no Livro das Armadas, atualmente na Academia das Ciências de Lisboa.
Para selar o sucesso da viagem
de Vasco da Gama
de descobrimento do caminho marítimo
para a Índia - que permitia contornar o Mediterrâneo,
então sob domínio dos mouros
e das nações italianas, o Rei D. Manuel I se apressou em mandar aparelhar
uma nova frota para as Índias. Uma vez que a pequena frota de Vasco da Gama
tivera dificuldades em impor-se e comerciar, esta seria a maior até então
constituída, sendo composta por treze embarcações e mais de mil homens. Com
exceção dos nomes de duas naus e de uma caravela, não se sabe como se chamavam
os navios comandados por Cabral. Estima-se que a armada levasse mantimentos
para cerca de dezoito meses.
Aquela era a maior esquadra
até então enviada para singrar o Atlântico: dez naus, três caravelas e uma
naveta de mantimentos. Embora não se saiba o nome da nau capitânia, a nau
sota-capitânia, capitaneada pelo vice-comandante da armada, Sancho de
Tovar se chamava El Rei. A outra cujo nome permaneceu é a Anunciada,
comandada por Nuno Leitão da Cunha. Esta última
pertencentia a Dom Álvaro de Bragança, filho do duque de Bragança, e fora
equipada com os recursos de Bartolomeu Marchionni e Girolamo (ou Jerônimo)
Sernige, banqueiros florentinos que residiam em Lisboa e investiam no comércio
de especiarias. As cartas que eles trocaram com seus sócios e acionistas
italianos preservaram o nome do navio.
Conservou-se ainda o nome da
caravela capitaneada por Pero de
Ataíde, a São Pedro. A outra caravela, comandada por Bartolomeu
Dias, teve o seu nome perdido. A armada era completada por uma
naveta de mantimentos, comandada por Gaspar de
Lemos. Coube a ela retornar a Portugal com as notícias sobre a
descoberta do Brasil.
Rota seguida por Cabral para a Índia em 1500 (em
vermelho) e a rota de retorno (em azul).
Baseado em documento
incompleto que localizou na Torre do Tombo, em Lisboa, Francisco Adolfo de Varnhagen identificou
cinco das dez naus que compunham a frota cabralina. Seriam elas Santa Cruz,
Vitória,Flor de la Mar, Espírito Santo e Espera. A
fonte citada por Varnhagen nunca foi reencontrada, portanto a maioria dos
historiadores prefere não adotar os nomes por ele listados. A armada, assim,
continua quase anônima.
Outros historiadores do século
XIX declararam que a nau capitânia de Cabral era a lendária São Gabriel,
a mesma comandada por Vasco da Gama na histórica viagem em que se descobriu o
caminho marítimo para as Índias, três anos antes. Entretanto, não existem
documentos para comprovar a tese.
Pouco antes da partida, el-Rei
mandou rezar uma missa,
no Mosteiro de Belém, presidida pelo bispo de
Ceuta, D. Diogo de Ortiz, em pessoa, onde benzeu uma
bandeira com as armas do Reino e entregou-a em mãos a Cabral, despedindo-se o
rei do fidalgo e dos restantes capitães.
Vasco da Gama teria tecido
considerações e recomendações para a longa viagem que se chegava: a coordenação
entre os navios era crucial para que não se perdessem uns dos outros.
Recomendou então ao capitão-mor disparar os canhões duas vezes e esperar pela
mesma resposta de todos os outros navios antes de mudar o curso ou velocidade
(método de contagem ainda atualmente utilizado em campo de batalha terrestre),
dentre outros códigos de comunicação semelhantes.
A chegada a
Vera Cruz
Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I, comunicando sobre o
descobrimento da Ilha de Vera Cruz (Brasil).
No dia 24 de Abril,
Andreza Balbino e Cabral receberam os nativos no seu navio. Então, acompanhado
de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau
Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu o grupo de índios
que reconheceram de imediato o ouro e a prata que se fazia surgir no navio —
nomeadamente um fio de ouro de D. Pedro e um castiçal de prata — o que fez com
que os portugueses inicialmente acreditassem que havia muito ouro naquela
terra. Entretanto, Caminha, em sua carta,5
confessa que não sabia dizer se os índios diziam mesmo que ali havia ouro, ou
se o desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que eles não conseguiram
entender diferentemente. Posteriormente, provou-se que a segunda alternativa
era a verdadeira.
O encontro entre portugueses e
índios também está documentado na carta escrita por Caminha. O choque cultural
foi evidente. Os indígenas não reconheceram os animais que traziam os
navegadores, à exceção de um papagaio que o capitão trazia consigo;
ofereceram-lhes comida e vinho, os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes
pelos objectos não reconhecidos - como umas contas de
rosário, e a surpresa dos portugueses pelos objetos reconhecidos -
os metais preciosos. Fez-se curioso e absurdo aos portugueses o fato de Cabral
ter vestido-se com todas as vestimentas e adornos os quais tinha direito um
capitão-mor frente aos índios e estes, por sua vez, terem passado por sua
frente sem diferenciá-lo dos demais tripulantes.
Desembarque de Cabral em Porto
Seguro (óleo sobre tela), autor: Oscar Pereira da Silva, 1904. Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
Os indígenas começaram a tomar
conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem a Primeira Missa, rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, 26 de abril
de 1500. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou para as
Índias, seu objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com a
carta de Caminha. No entanto, posteriormente, com a chegada de frotas lusitanas
com o objetivo de permanecer no Brasil - e a tentativa de evangelizar os índios
de fato -, os portugueses perceberam que a suposta facilidade na cristianização
dos indígenas na verdade traduziu-se apenas pela curiosidade destes com os
gestos e falas ritualísticos dos europeus, não havendo um real interesse na fé
católica, o que forçou os missionários a repensarem seus métodos de conquista
espiritual.
Os povos
nativos
Os povos que habitavam o
Brasil na época da chegada de Cabral viviam na Idade da
Pedra, entre a passagem do Paleolítico
para o Neolítico,
uma vez que praticavam uma incipiente agricultura (milho e mandioca)
e domesticação de animais (porco do mato e capivara).
Isso significa que estavam entre 300.000 e 12.000 anos atrás dos europeus.
Contudo, tinham amplo conhecimento da produção de bebidas alcoólicas
fermentadas (mais de 80), utilizando como matéria prima raízes, tubérculos,
cascas, frutos, etc. O impacto causado pela chegada dos portugueses é o mesmo
que causaria hoje a chegada de nave de extraterrestres pertencentes a uma
civilização milhares de anos mais avançada do que a nossa.6
Índios tupinambás, gravura do século XVI.
Quando da chegada ao Brasil
pelos portugueses, o litoral baiano era ocupado por duas nações indígenas do grupo
linguístico tupi: os tupinambás,
que ocupavam a faixa compreendida entre Camamu e a foz
do Rio São Francisco; e os tupiniquins,
e que se estendiam de Camamu até o limite com o atual estado brasileiro do Espírito Santo. Mais para o interior,
ocupando a faixa paralela àquela apropriada pelos tupiniquins, estavam os aimorés.
No início do processo de colonização do Brasil, os
tupiniquins apoiaram os portugueses, enquanto seus rivais, os tupinambás,
apoiaram os franceses, que durante os séculos XVI e XVII realizaram diversas
ofensivas contra a América Portuguesa. A presença dos europeus
incendiou mais o ódio entre as duas tribos, ódio relatado por Hans Staden,
viajante alemão, em seu sequestro pelos tupinambás. Ambas as tribos possuíam
cultura antropofágica
com relação aos seus rivais, característica que durante séculos não fora
compreendida pelos europeus, o que resultou na posterior caça àqueles que se
recusassem a mudar esse hábito.
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nota: Este
artigo é sobre o fato histórico ocorrido em 1500. Para outros significados,
veja Descobrimento do Brasil
(desambiguação).
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